sábado, 14 de julho de 2012

Incêndio...

imagem retirada do mercado livre

Década de 70 novamente, não quero pesquisar o ano certo, ou melhor, um dia vou buscar localizar os fatos e ver se tem alguma relação com o Natal de 1973 ou 1975 (ano que também não recordo exatamente).

Passávamos as férias escolares de verão em Porto Alegre, na casa da minha avó paterna. Minha mãe arrumava milhões de sacolas e íamos de ônibus ou de fusca azul calcinha com minha mãe dirigindo a 80 km por hora ou menos na Serra do Rio das Antas.

Não bastassem as sacolas, nesse verão fomos de ônibus e levamos inclusive minha boneca "Amiguinha" que era do meu tamanho ou pouco maior, sentada no mesmo banco do ônibus.

Minha avó até tentava domar as sacolas da minha mãe e comprou dois sacos grandes com zíper e tecido xadrez na vã tentativa de que as sacolinhas fossem abandonadas.

Chegamos na apartamento da minha avó e lá ficamos, com certeza eu e minha irmã do meio, não recordo se a mais nova já era nascida. Minha mãe voltou porque fazia a chamada "faculdade de férias" junto com o meu pai.

No Carnaval nossa casa pegou fogo e aqui a memória fica esquisita porque minha mãe adorava fazer fantasias e levar a gente para concursos, somado ao fato de que normalmente não há aulas nesse período. Conta a lenda que um rapaz ficou cuidando da casa e deixou o ferro ligado, tudo queimou. 

Tudo? Bem, nem tudo! A casa, móveis, cobertas, roupas de inverno, eletrodomésticos, realmente queimaram e ainda lembro do dia em que andei pelo meio dos escombros e de dentro da geladeira queimada saía uma espécie de algodão, fui pegar e minha mãe disse que poderia machucar, depois descobri que era fibra de vidro.

O que não queimou? Álbum de casamento, minha boneca  "Amiguinha",  fotos da nossa infância até ali, presentes de casamento, enxoval de casamento da minha mãe, jóias, enfim, quase todos os itens de valor afetivo foram misteriosamente preservados do incêndio.

Depois de muita terapia, consegui perguntar para minha mãe como essas coisas se salvaram e ela respondeu que estava separando do meu pai e tinha levado esses itens para a casa da minha avó. Mesmo assim, tudo continuou muito estranho.

Escrevendo está quase me fazendo concluir que esse Carnaval foi imediatamente posterior ao Natal de 1973 ou 1975, aquele em que ganhamos presentes fantásticos. Será?

Também fico me perguntando, será que o evento traumático do Natal levou alguém a tomar essa atitude maluca de terminar com tudo? Ou será que a louca sou eu em pensar esse tipo de coisa? Acidente tão organizado assim? Tudo é possível na vida!!! De qualquer forma, foi muito triste e continua sendo pela falta de entendimento e clareza.

A história me faz perceber mais um trauma que pode ter levado ao consumo de certa forma desenfreado, afinal, perdi quase tudo, quase todos os brinquedos e roupas queridas de inverno,  o que pode ter levado à necessidade de ter muitas e muitas coisas.

Outra coisa que veio na cabeça agora foi a resistência que eu tinha em adquirir casa própria, sempre fugia. Fiquei casada durante nove anos e nunca pensamos em ter um local nosso para morar. Depois de separada, em uma oportunidade simplesmente parei de pagar um apartamento financiado, deixando que o banco fizesse o que queria por falta de pagamento, tudo para não ter o compromisso da famigerada casa própria (?).

Bem, somente muito tempo depois, sem ainda ter feito a ligação com o incêndio, consegui ter minha casa, já estavávamos no de 2003 e eu quase com 38 anos.

Hoje já tenho menos problemas com imóveis e consigo até investir neles, mas foi um grande e doloroso caminho. Ainda é doloroso pensar nesse incêndio, as perdas decorrentes e tudo que possa haver por trás de tudo isso, coisas que talvez nunca me sejam esclarecidas.



2 comentários:

  1. Primeiramente, também tenho uma boneca dessas grandonas (mas acho que ela tem outro nome) na casa da mãe, ela já perguntou diversas vezes porque eu não me desfaço das bonecas e eu respondo sempre a mesma coisa “deixa meus brinquedos, eles não estão incomodando” rs.

    Quanto ao incêndio, que triste, mas, ao mesmo tempo, que estranho.

    Primeiro que não entendo como isso pode ter traumatizado tanto sem ter sido levado em consideração que não houve feridos. Isso no meu entender seria o mais importante, pois coisas se compra de novo, sei que não é com conversa que se compra e que é muito difícil ganhar dinheiro. Mas é possível, já se houvesse perdas ou acidentes com pessoas, isso nem a pessoa mais rica do mundo conseguiria resolver. Mas é só o meu modo de ver, não quero ser mal interpretada. E também não vivi isso para dizer ao certo. E sei que traumas de infância são quase “ad aeternum”, tenho uma prima que quando criança a mãe como tinha que trabalhar me deixava em uma tia, assim que essa prima tinha um daqueles ratinhos domésticos, não sei o nome daquilo, sei que tem um nome e que eu morria de medo e ela sempre me assustava com o negócio, eu não consigo me dar com ela até hoje, sempre lembro do medo, mas tento não pensar nisso, só que quando sou arrastada pra lá, não consigo trocar nem 3 palavras com ela..rs, então sei bem que o trauma não passa, mas diante da situação que poderia ser muito pior, não entendo como não levado isso em consideração também, para ao menos amenizar o trauma.

    Quanto ao modo que aconteceu também achei estranho e compartilharia da mesma dúvida em relação ao estranho fato de algumas coisas terem se salvado e outras não. Em todo caso, ainda restaram lembranças pessoais, que talvez pelo acontecido nem sejam tão bem quistas assim.

    Mas inicialmente não vejo ligação disso com o consumo, até porque se fosse o trauma, não deixaria nada na tomada, iria ver mil vezes se tal coisa estava desligada, teria seguro do seguro, mas o comprar por comprar não me parece, a não ser que seja tipo o consumo do medo da perda, o que pode ser... eu já tive essa neura, o notebook de casa e o de andar na rua, o da rua passível de roubo/furto mais simples, com menos coisas pessoais, celular idem, e se entrassem na minha casa? Meio sem lógica a minha neura, mas era o medo de ficar sem, mas dai teria que ter as coisas em lugares diferentes não?

    Agora esse medo da casa própria foi exagerado né? Esse sim, sem dúvidas, se deve em relação ao ocorrido, mas é só por seguro e cuidar. Nenhum trauma que possa ter vai fazer voltar aquela situação ou muda-la, mas podem prejudicar o agora, sei lá. Eu tentaria esquecer coisas ruins.

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  2. Triste a história, as suspeitas e as consequências na sua vida. Tipo de coisa que talvez nunca tenha uma conclusão. Sempre pensei que ter uma casa própria fosse um alívio, nunca um problema. Não consigo imaginar alguém fugindo disso. Apesar da lembrança triste, é um dos melhores posts do seu blog.

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