Para encerrar o ano... texto de Martha Medeiros...
As
melhores coisas do ano sempre foram aquelas que eu não previ.
Ano-Novo
é uma convenção. Os dias correm em sequência. De 31 de dezembro
para 1º de janeiro ocorrerá apenas mais uma sucessão de 24 horas
em que nada mudará, tudo seguirá do mesmo jeito. Pois é, sei
disso, mas é um ponto de vista sem nenhuma alegria. Sou das que
compram o pacote de Ano-Novo com tudo que ele traz em seu imaginário:
balanço de vida, reafirmação de votos, desejos manifestos e
esperança de uma etapa promissora pela frente.
Faço
lista de projetos e tudo mais. Só que, quando chega o fim do ano e
avalio o que consegui cumprir, descubro que o inesperado superou de
longe o esperado. As melhores coisas do ano sempre foram aquelas que
eu não previ. Então tomei uma decisão: nessa virada, não vou
planejar coisa alguma e aguardar as resoluções que novo ano tomará
para mim, à minha revelia.
Mas
poderia dar algumas sugestões?
Ano
Novo, anote aí: que as coisas mudem, mas não alterem meu estado de
espírito. Não deixe que eu me torne uma pessoa ranzinza,
mal-humorada, desconfiada, sem tolerância para as diferenças.
Aconteça o que acontecer, que eu me mantenha aberta, leve e
consciente de que tudo é provisório.
Não
quero mais. Quero menos. Menos preocupações, menos culpa, menos
racionalismo. Pode cortar os extras. Mantenha apenas o estritamente
necessário para me manter atenta.
Está
anotando?
Espero
que você esteja com ótimos planos para sua amiga aqui. Lançarei
livro novo? Permita que eu seja abusada: dois. Sendo que nenhuma
coletânea de crônicas, nem romance. Me ajude a variar.
Que
lugares conhecerei que ainda não conheço? Que pessoas entrarão na
minha vida que, quando cruzo com elas na rua, ainda não as
identifico? Que boas notícias ouvirei das minhas filhas? Quantos
shows terei o prazer de assistir? Estou curiosa para saber o que você
está aprontando para incrementar os meses que virão.
Prometo
que estarei preparada para receber o abraço afetuoso de quem antes
me esnobava, para a frustração por tudo o que for cancelado, para
voltar atrás nas minhas teimosias, para me dedicar a algo que nunca
fiz antes.
Estarei
disposta a tirar de letra os espíritos de porco e assumir a
responsabilidade pelas asneiras que eu mesma cometer. E estarei
pronta também para uma grande surpresa, ou até duas. Três, meu
coração não aguenta.
Se a
dor me alcançar, que me encontre com energia e sabedoria para
enfrentá-la. Que eu não me torne dura diante dos horrores, nem
sentimentaloide diante das emoções. Ano Novo, os acontecimentos são
da sua alçada. Da minha, cabe recepcioná-los com categoria.
Quais
são seus planos para mim, afinal? Talvez nem todos sejam do meu
agrado, portanto, que eu não tenha constrangimento em dizer “não,
obrigada”, caso seja preciso. Mas que eu me sinta mais predisposta
para o sim.
Se
estamos de acordo, pode vir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário