terça-feira, 9 de julho de 2013

Conversando com Dona Maria

Reatei com a Dona Maria afinal todos temos dias melhores e piores.

Ontem foi meu primeiro dia de férias e conversei muito com ela. Com três anos veio com a mãe de Sergipe, quem a encontra hoje não sabe como sobreviveu, pois era cabeçuda e com os olhos saltados, pura pele e osso, subnutrida, nas palavras dela. Alguns irmãos morreram judiados. Judiados? Foram maltratados, Dona Maria? Não, judiados pela fome, morreram de fome.

Teve o primeiro filho com quatorze anos e depois engravidou mais nove vezes, duas crianças morreram "ainda na barriga", ficaram cinco homens e três mulheres. Completou sessenta anos em maio e já tem dezoito netos, desses apenas três homens, pois só nascem meninas na família, tanto que tem duas bisnetas e nenhum bisneto.

Criou todos os filhos trabalhando na limpeza da casa dos outros. A filha mais velha começou a trabalhar com sete anos, limpando a própria casa enquanto a mãe ia para a rua trabalhar.

Quando teve a última menina, hoje com vinte e um anos, sua patroa que também havia tido nenê há pouco disse para ela que iria pagar uma cirurgia para que Dona Maria não tivesse mais filhos. Assim fez a patroa e trinta dias após o nascimento da menina foi feita tal cirurgia, mas ela queria ser igual à mãe e ter quatorze filhos. Quase consegui, diz Dona Maria rindo.

Marido alcoólatra, acho que isso já falei isso por aqui, e toda a responsabilidade financeira, emocional e qualquer outra que houvesse a cargo da senhora que está sempre sorrindo. Penso que disfarçava bem quando era maltratada pelo tal marido.

Isso tudo me deixou triste e ao mesmo tempo com uma admiração cada vez maior por essa pessoa batalhadora que não viu obstáculos, não esmoreceu, não se entregou e resolveu levar uma vida digna. Certamente não tem uma boa situação financeira, mas parece muito feliz e comenta com alegria sobre os dias em que a grande família se reúne. 

Meus filhos estão bem empregados. Meus filhos estão encaminhados. Minha filha está bem casada e não gosta de fazer limpeza, mas o marido paga uma faxineira para ela que levou quase dez anos para engravidar. A outra filha avisamos para não casar porque a própria mãe do rapaz dizia que ele não prestava, furou "ela" com a faca e agora mora comigo, não tenho vergonha de dizer que ela é ruim, mas deve ser pelo sofrimento que passou no casamento.

Linda história de superação e de compreensão das dificuldades pelas quais passam outras pessoas.

E... de vez em quando ainda quero reclamar de uma coisa ou outra... não tem cabimento! Minha vida foi o paraíso perto do sofrimento pelo qual passaram e ainda passam outras pessoas!

4 comentários:

  1. Sabe, acho que antigamente era normal ter esse número alto de filhos.

    Na minha família por parte de mãe também são 14 irmãos e de pai 7. Assim que tem de tudo na família, porém todos tiveram suas dificuldades, estudavam em internatos (os que puderam estudar, na família da mãe todos, mas no meu pai não, ele era um dos que não e por isso formar os filhos sempre foi prioridade na vida dele)e dai é certo que não dá para reclamar.

    Isso de superação e conseguir uma vida melhor e oportunizar os filhos uma vida melhor é bem legal e admirável, mas tem pessoas que se superam para manter uma estrutura e talvez tenha sido o caso dessa senhora em assumir a responsabilidade que não era só dela.

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    1. Gosto muito de ouvir esses relatos, funciona para mim como um choque de realidade e uma lembrança para não mais reclamar de qualquer coisa, embora isso seja difícil para mim... rs

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  2. Boas Férias!!!
    Escreva bastante no Blog.
    Bjs

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    1. Espero que as férias sejam ótimas, quero pelo menos sair daquela rotina que por vezes me cansa... beijos

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