Desativei minha conta no facebook na sexta-feira. Resolvi ficar mais presente. Era uma neura, faz uma coisinha e verifica se tem notificações no face. Está fazendo outra coisa e tira foto para colocar no face. Cachorros em posição bonitinha ou fazendo pose para a foto e lá ia para o face. Alguém dizendo alguma coisa engraçada era registrada no face.
Pensando bem, deve ser um belo diário, mas nunca voltei para olhar as postagens antigas.
E o que geravam as postagens? Pessoas que você encontrava por aí e mencionavam sua vida com a maior intimidade, como se fizessem parte da sua vida e na realidade eu deixei que fizessem ao tomarem conhecimento do que acontecia comigo.
E o que gerava essa conexão em tempo real? Uma total ausência no mundo real. Pessoas que falavam comigo em casa e eu eu não olhava nos olhos, muitas vezes sequer prestava atenção. Televisão passando aquele filme maravilhoso e eu sentada no sofá rolando a tela do face no celular e prestando pouca atenção. Livros? Como ler um livro e rolar a tela do face ao mesmo tempo? Impossível, então o livro ia ficando.
Pode ser que daqui a meia hora, uma semana ou um mês eu resolva reativar a conta e tudo volte a ser com antes! A desativação não foi uma "intenção", não tem um período determinado, não possui o compromisso de ser para sempre, mas por enquanto tem se mostrado uma boa atitude, observei que até alguns relacionamentos estão melhorando e com possibilidade de melhoras maiores pelo simples prestar atenção e olhar nos olhos, sem a ansiedade de monitorar constantemente a rede social que nada me acrescentava e muito me tirava.
Fiquei observando o que eu tanto olhava nas redes: as dez raças de cachorros mais raras do mundo, as dez mortes mais bizarras, atitudes que podem mudar sua vida, os castelos mais fantásticos de todos os tempos, vídeos interessantes, entrevistas com pessoas estranhas, notícias bizarras de jornais. Está certo havia algumas coisas bem úteis afora as citadas, mas que não compensam o tempo conectada, bastando procurar na internet especificamente que se quer.
E os e-mails? Recebo e-mails bem interessantes de blogs e sites, sendo que não os estava lendo em razão de precisar constantemente rolar, curtir e responder na time line do facebook. Agora já retomei essas leituras e tem sido muito mais proveitoso.
Minha mãe quase não sai de casa porque meu pai não gosta. Nos meus tempos de adolescente ela nos levava aos bailes e festas toda feliz, sendo que ele não acompanhava. Sabendo disso convidamos os dois, por ocasião da reunião da formatura do meu sobrinho, para ir até o Sgt .Peppers, um pub londrino em Porto Alegre e que existe desde minha juventude e que eu frequentava até mesmo soziha. Meu pai recusou e minha mãe foi.
No tal pub somente músicas antigas e a mesma Banda dos Corações Solitários que alegrou tanto minha juventude. The Beatles, Led Zeppelin, Queen, dentre outras. Filmei uma das apresentações e assistindo depois percebo do lado direito uma luz de celular e os dedinhos da minha mãe rolando a tela do facebook ou conversando com pelo whatsapp sem interagir com as pessoas realmente presentes naquele local.
A sensação foi indescritível, sufocante até. No dia seguinte, durante o jantar de formatura constato que ela estava com o celular e na mesma situação, pedi que interagisse com a gente porque raramente conseguíamos reunir a família em razão da distância e levei uma enorme bronca, somente conseguir dizer "a senhora me desculpe, mas não falei com intenção de ofender e nem sei o que eu possa ter dito para ser interpretado como ofensa, me desculpe!" e lá continuou ela nas redes sociais e aplicativos.
Considerando que devemos olhar para nós mesmos sempre que constatamos uma atitude que criticamos, observei que eu não estava agindo muito diferente e resolvi tomar a atitude, também por essa razão, de desativar facebook.
Seguindo esse caminho o "jogo das bolhas" também foi deletado. Ou facebook ou joguinho no celular... e a vida passando e eu não estava nem percebendo!!!